PANAPLÉIA

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Bem-vindo(a) ao Laboratório de Autoria de Panapléia! À esquerda das postagens, estão meus textos divididos em categorias e temas. À direita, indicações de blogs e as mídias sociais. No rodapé, mimos felinos e os créditos do blog. Boa leitura!

SUICÍDIO FAZ MAL À SAÚDE

“É feita de ciclos a mulher, renovando-se a cada lua para em seguida oferecer-se novamente fértil e receptiva. (...) E, caramba, como não temer um bicho que sangra durante dias e não morre?” Ricardo Kelmer
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Sim, eu poderia tentar me matar. Poderia sim! Seria um luxo morrer antes dos 30, com a pele reluzente e tudo em cima. Todos os miseráveis que me esnobaram um dia olhariam para o meu corpo inerte no caixão e lamentariam o desperdício da carne fresca e enxuta. Aqueles que ao invés de me esnobarem, arrastaram bondes e correntes por mim, poderiam procurar meus pais e perguntar se não haveria doação de órgãos. Obviamente eles não revelariam a que órgãos estavam se referindo. Isso seria de uma falta de senso absoluta.

Se eu me matasse será que ele sentiria algum remorso por não ter respondido minhas mensagens? Choraria de arrependimento por não ter ligado uma única vez essa semana? De qualquer forma, ele não me veria outra vez. A distância não permitiria que ele chegasse a tempo para o meu velório. Assim sendo de que adianta me matar? Idéia tonta! Como mulheres morenas, herdeiras de cabelos pretos como a asa da graúna, podem pensar em algo extremamente louro?

Eu poderia fazer algo bem mais simples. Tipo: tomar uma caixa de remédios para passar uns três dias dormindo, o pós-orgasmo da vampiresca Nara*, uma pequena morte como diriam os franceses. Depois conseguiria tudo que preciso no momento: férias forçadas. Um mês de licença remunerada, largada na minha cama repleta de travesseiros, lendo e assistindo filmes. Obviamente os amigos alugariam muitas comédias em prol da minha recuperação. Também trariam muitos livros engraçados, incluindo revistas em quadrinhos – principalmente as do Garfield. Essa sim não é uma idéia tonta. Talvez até me presenteassem com flores, bombons ou outros mimos. Passariam horas sentados ao pé da minha cama contando piadas de internet. E quem sabe até, sendo bastante otimista, choveriam convites irresistíveis para viajar. Sendo mais otimista ainda, finalmente eu conheceria Minas com sua carga histórico-literária inesgotável. Sim, preciso planejar como farei isso imediatamente.

Vejamos o que temos aqui. Nem um único tranqüilizantezinho dos que o médico receitou para minhas noites de insônia. Vou ter que me apropriar indevidamente da medicação de alguém. O remédio de pressão da minha mãe tem o nome ideal: Assert. Nem tão acertado assim. Fica meio ridículo uma professora se envenenar com comprimidos que desobedecem à ortografia vigente. Gotas para enxaqueca, colírio para conjuntivite, analgésico para dor lombar... Nessa cestinha tem tudo, menos remédio para provocar catalepsia. Ah! Álvares de Azevedo... Peça a Solfieri* que me mostre o caminho!

Vale a pena perscrutar o que aconteceria logo após o meu desfalecimento. Seria interessante deixar um bilhete explicando para a minha família que não era uma tentativa de suicídio. Nada de “pare o mundo, eu quero descer”. Imagine! Aprendi na infância a jamais fazer algo que atentasse contra a vida de alguém – principalmente contra a minha. Talvez devesse orientá-los a não me levar ao hospital enquanto estivesse apenas desmaiada. Quem sabe aguardar para que eu começasse a babar, espumar, algo assim. (Obviamente não deveriam esperam as convulsões.) Uma maneira incontestável de convencer o hospital a mandar uma ambulância e assim, economizaríamos com o táxi.

Putz! Nem me fale em dinheiro. Se eu chamar o gato de “meu bem” os agiotas virão buscá-lo no meu quintal. Falando nisso, não pago o Plano de Saúde desde o início do ano. Não é muito inteligente provocar uma emergência para ser atendida pelo Serviço Público de Saúde.

Impressionante como pobre não tem direito nem a simular suicídio nesse país. Corre o risco de morrer de verdade! Cadê Lula, o presidente dos fudidos, para criar a “Bolsa de Apoio aos Suicidas Carentes?” Ah, que vida tirana! Já diziam os filósofos orkutianos: “Eu queria ser pobre por um dia, porque ser todo dia é foda.” Melhor desistir da overdose de comprimidos.

Um porre homérico seria maravilhoso se não fosse minha gastrite. A última vez que me atrevi tomar duas tacinhas de licor de menta (coisa de balzaquiana), após um almoço de sábado com uma amiga, tive uma crise de riso seguida de dores abdominais que me mantiveram indisposta a tarde toda. Não duvido que o álcool me pusesse doente de verdade. Neste caso, a pessoa que mais sofreria seria eu mesma. E esta tristeza, esta melancolia, esta angústia, esta baixa auto-estima, esta insatisfação, este tédio... Enfim, esta TPM se agravaria abundantemente. Se bem que no meu caso, essa sigla está ultrapassada há anos. Talvez ficasse mais correto DPMD – Depressão Pré-Menstrual Disfórica. Preciso sugerir essa nova sigla para o CID – Código Internacional de Doenças. Acho até que eu merecia um prêmio pela idéia. Dez milhões de reais parecem uma quantia adequada, mas há modelos brasileiras ganhando isso por mês por serem esqueléticas. Eu mereço ser mais bem recompensada por ficar deprimida uma vez por mês os doze meses do ano.

Acredito que cem milhões de reais seria uma quantia justa – nem de mais e nem de menos. Poderia inclusive receber em moeda estrangeira, tipo euro. Já que o dólar está em baixa. Melhor não... O Lima Barreto nunca me perdoaria e era capaz de me aparecer em sonho esbravejando como o Policarpo Quaresma. Eu morreria – dessa vez de verdade – só do susto. Não tenho a menor estrutura física, psíquica, psicológica, emocional e social (o que é que o social tem a ver com isso mesmo? Não sei, mas hoje em dia o social e o filantrópico se metem em tudo) para dialogar com fantasma, estando acordada ou dormindo.

Se bem que passo tantas horas hibernando que algumas pessoas simplesmente não conseguem saber a diferença do meu estado. Por exemplo, minha sobrinha constantemente interrompe meu sono com a pergunta cretina: “Titia, a senhora está dormindo?” Talvez a bichinha faça isso por culpa da minha mãe que muitas vezes grita, berra e esbraveja por horas para depois completar: “Não chore que vai acordar sua tia.” Como se eu conseguisse dormir com uma avó esguelando-se ao lado do meu quarto.

O que eu faria mesmo com cem milhões? Devo pensar com prudência porque correria muitos riscos. Com a violência urbana dominante nesse país, precisaria de uma tropa policial tão numerosa quanto a que acompanhou Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá à delegacia. Expondo-me ainda a uma possível rebelião. Sim, os PMs poderiam expressar suas idiossincrasias me tornando refém do seu movimento grevista em prol de melhores condições de trabalho. E nem me fale em Movimento... Seria o meu fim se o MST me encontrasse. Sem falar nos GLS – bem capaz de irem pelo mesmo caminho depois do escândalo envolvendo o Fenômeno. Melhor mesmo seria pedir apoio ao PCC, ao CV ou algum traficante poderoso. Pensando bem, eles não topariam. Não sou a favor do narcotráfico, eles não fariam um gol contra nos quarenta e quatro minutos do segundo tempo. Ainda mais agora com os manifestantes marchando pela Legalização da Maconha – um produto a menos para o lucro deles. Custava Juvenal Antena existir fora da plim-plim?

Existe ainda uma probabilidade enorme dos meus finados baterem a minha porta. Os mais hipócritas pedindo uma segunda chance alegando ser vip a senha que receberam – que coisa mais original! Os mais ordinários pediriam uma pensão por terem contribuído de alguma forma – direta ou indiretamente – para minhas crises emocionais.

Quanto pessimismo! Credo! Por que não posso casar com o Gianechinni? O que não seria um mau negócio para ele, já que estou mais sarada que a Marília Gabriela, fui batizada com nome composto que termina em “ela” e tenho grandes probabilidades de me tornar tão culta quanto – a cor do meu cabelo facilitará o aprendizado.

Caramba, carambola, o dia amanheceu! O papo está ótimo, mas preciso voltar para a senzala. Quando o sol raia a cronista pré-menstrual pós-moderna vira uma maltrapilha escrava do sistema capitalista neoliberal selvagem.


-> Nara* – personagem do Sitcom “Sonhos Urbanos” do roteirista Ricardo Kelmer.
-> Solfieri* - personagem do Conto homônimo de "Noite na Taverna" do Álvares de Azevedo.

|2008|

Um comentário:

  1. Essa crônica se explica sozinha. Noite de insônia dá nisso!

    OBRIGADA PELA VISITA!

    ResponderExcluir

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